O ofegante ar de Verão chegou. Por entre os massivos blocos de granito, há muito semeados pela planície, uma pequena mancha verde distingue-se da seara dourada. Nesse local, o solo é macio e pouco fundo. Por baixo passa um lençol de água, amparado pelas grandes rochas. A água, tão indispensável à Vida. É essa água que permite a existência da pequena mancha verde.
Um pequeno ser surge envolto nesse manto verde. É uma rosa. Vermelha como o sangue, palpitante com a Vida que a água lhe fornece, cresce esplendorosa, diferente de toda a seca paisagem que a rodeia. Um botão viçoso que quebra
Um zumbido aproxima-se. É um pequeno colibri, esverdeado, de olhos pequenos e negros. Esvoaça, aqui e ali, procurando algo. Até que repara na nobre rosa que brota da terra e se aproxima. Satisfaz a sua sede nas gotas de água existentes, e, encantado pela essência da rosa, decide aproximar-se. Chegando-se à flor, batendo as asas freneticamente, beija-a, e assim colhe o seu néctar. Era doce e viciante.
Por gosto ou por feitiço, o colibri passou a alimentar-se apenas do néctar daquela rosa. Todas as manhãs, o zumbido surgia do nada, no meio dos blocos de granito, e o colibri aproximava-se da rosa para a beijar uma e outra vez. O contagiante néctar alimentava-lhe não só o frágil corpo, mas também a alma. O pequeno colibri sentia-se cada vez mais ecstasiado pela flor, era-lhe imprescindível voltar lá todo e cada dia que passasse.
O tempo foi passado. O colibri voltava à rosa todos os dias, sem excepção. E de todas as vezes que lá ia, festejava-se no néctar sagrado que a flor lhe oferecia.
No entanto, a água começou a escassear. A mancha verde começou a perder o brilho de sempre. A rosa, outrora viçosa e colorida, começou a secar e a sofrer os efeitos da falta de energia, a energia que a água lhe fornecia. Como tal, também o néctar que produzia se transformou., tornara-se venososo. Agora, de cada vez que o colibri se alimentava, tomava veneno. Mas de tão enfeitiçado que estava, a pobre ave não conseguia resistir, e tornava a voltar à rosa todos os dias...
Até que um dia a rosa secou de vez e morreu. Em vão, o colibri tentou chegar ao seu interior, mas as pétalas secas já nada tinham para oferecer. Desesperado, o colibri continuou a esvoaçar em torno da flor e a tentar chegar ao seu objectivo, mas não havia nada a fazer. A morte tinha tomado conta daquele espaço, logo a partir do momento em que a água parou de correr.
Agora, o pequeno colibri enlouquecera, devido ao veneno que lhe corrompia o frágil corpo. Batia as asinhas em vão, de roda da rosa que outrora lhe fornecia toda a energia. Até que o veneno tomou conta da pequena ave, de uma vez por todas. O colibri caiu morto.
Os blocos de granito ainda lá estão. Este pedaço de terra, que outrora fora verde e resplandecia com vida, não passa de um pequeno charco seco, pútrido. Em breve, o dourado da seara há-de tomar conta deste recanto. Mas nunca a terra recuperará a sua vitalidade original.