Sunday 6 July 2008

Dementia

Louco. Sou louco. Não o tipo de demente que corre contra as paredes e grita, grita, grita, sem que ninguém o oiça. Não sou, certamente, o insano que se senta na mesma cadeira durante todo o dia, a balançar constantemente os membros, a apanhar o ar.
Sou o tipo de louco que carrega a arma com que o irão matar, e ainda a oferece a quem irá disparar o gatilho. Tenho em mim maior controlo do que a camisa de forças me pode controlar. Estou preso, mas dentro de mim sou livre. Por isso sou louco, por ser livre. Endoideço, por me libertar da minha prisão e por sorrir enquanto caminho para a execução. Entrego-me à tortura que aceito sem receio. O corpo pode não aguentar, mas o espírito é forte e nada o derrubará.
Confio cegamente no carcereiro. Ele é meu amigo. Ou me ajuda, ou premirá o gatilho. Qualquer uma das opções é benévola para mim. Ele é meu amigo. Confidencia-me os desabafos da sua vida, dos olhares que já viu desaparecerem pela sua mão, e sempre me avisa que um dia poderá chegar a minha hora. Ele é meu amigo.
Estou certo que, um dia, ele me irá libertar.

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