Sunday 27 July 2008

A rosa e o colibri

O ofegante ar de Verão chegou. Por entre os massivos blocos de granito, há muito semeados pela planície, uma pequena mancha verde distingue-se da seara dourada. Nesse local, o solo é macio e pouco fundo. Por baixo passa um lençol de água, amparado pelas grandes rochas. A água, tão indispensável à Vida. É essa água que permite a existência da pequena mancha verde.
Um pequeno ser surge envolto nesse manto verde. É uma rosa. Vermelha como o sangue, palpitante com a Vida que a água lhe fornece, cresce esplendorosa, diferente de toda a seca paisagem que a rodeia. Um botão viçoso que quebra
Um zumbido aproxima-se. É um pequeno colibri, esverdeado, de olhos pequenos e negros. Esvoaça, aqui e ali, procurando algo. Até que repara na nobre rosa que brota da terra e se aproxima. Satisfaz a sua sede nas gotas de água existentes, e, encantado pela essência da rosa, decide aproximar-se. Chegando-se à flor, batendo as asas freneticamente, beija-a, e assim colhe o seu néctar. Era doce e viciante.
Por gosto ou por feitiço, o colibri passou a alimentar-se apenas do néctar daquela rosa. Todas as manhãs, o zumbido surgia do nada, no meio dos blocos de granito, e o colibri aproximava-se da rosa para a beijar uma e outra vez. O contagiante néctar alimentava-lhe não só o frágil corpo, mas também a alma. O pequeno colibri sentia-se cada vez mais ecstasiado pela flor, era-lhe imprescindível voltar lá todo e cada dia que passasse.
O tempo foi passado. O colibri voltava à rosa todos os dias, sem excepção. E de todas as vezes que lá ia, festejava-se no néctar sagrado que a flor lhe oferecia.
No entanto, a água começou a escassear. A mancha verde começou a perder o brilho de sempre. A rosa, outrora viçosa e colorida, começou a secar e a sofrer os efeitos da falta de energia, a energia que a água lhe fornecia. Como tal, também o néctar que produzia se transformou., tornara-se venososo. Agora, de cada vez que o colibri se alimentava, tomava veneno. Mas de tão enfeitiçado que estava, a pobre ave não conseguia resistir, e tornava a voltar à rosa todos os dias...
Até que um dia a rosa secou de vez e morreu. Em vão, o colibri tentou chegar ao seu interior, mas as pétalas secas já nada tinham para oferecer. Desesperado, o colibri continuou a esvoaçar em torno da flor e a tentar chegar ao seu objectivo, mas não havia nada a fazer. A morte tinha tomado conta daquele espaço, logo a partir do momento em que a água parou de correr.
Agora, o pequeno colibri enlouquecera, devido ao veneno que lhe corrompia o frágil corpo. Batia as asinhas em vão, de roda da rosa que outrora lhe fornecia toda a energia. Até que o veneno tomou conta da pequena ave, de uma vez por todas. O colibri caiu morto.
Os blocos de granito ainda lá estão. Este pedaço de terra, que outrora fora verde e resplandecia com vida, não passa de um pequeno charco seco, pútrido. Em breve, o dourado da seara há-de tomar conta deste recanto. Mas nunca a terra recuperará a sua vitalidade original.

2 comments:

Niz said...

Acho que o colibri viu na rosa algo de especial, de diferente. No entanto , essa diferença tem dois lados: o lado do fascínio (que fazia com que voltasse lá todos os dias) e o lado do veneno (o fascínio que se transformou em veneno e que acabou por o matar).

As rosas geralmente são assim: lindas, maravilhosas, perfumadas, esplendorosas, mas tal como a rosa da tua história, também murcham, também morrem...faz parte da evolução da vida...morrer para re(nascer) ou continuar mortas.

Se esse colibri tivesse olhado á sua volta, um dia que fosse, teria reparado que escondido bem no fundo da seara dourada, existia uma rosa branca, que recebia todos os seus carinhos, todos os seus beijos e fabricaria água especial todos os dias, durante toda a sua vida, para que o colibri jamais morresse de sede. Essa rosa branca,um dia, também murcharia, para renascer noutro lado qualquer, com a mesma cor e o mesmo perfume, esperando que esse mesmo colibri a encontrasse, vida após vida!!!

Para mim todos nós temos uma rosa negra por quem nos apaixonamos e geralmente nunca vimos a rosa branca, pequenina, e discreta que vive nos sítios mais escondidos, esperando pelo seu colibri! =)

Amo.te Meu irmaozinho mais bom @@

your poison melody said...

secalahr o nectar dessa rosa nao é suficiente para o colibri viver em pleno, mas o Colibri enfeitiçado pelo odor da rosa não ercebe...que ha um jardim inteiro...la fora
Your Poison Melody